quinta-feira, 20 de setembro de 2007

EPISÓDIO 7: O riquinho do Liceu

O Liceu de Ensino Médio é um colégio estadual, mas isso não significa que quem estuda lá são somente os baixa-renda. Pelo contrário: é uma escola tão conceituada, que as vagas são disputadíssimas pelas mães dos alunos. Uma exceção é o boyzinho Luis Antônio Junior, o herdeiro da família Lins, dona do império dos transportes da cidade.
Junior é o típico filhinho de papai. Chega no Liceu com motorista particular, sempre engomadinho, exalando perfume por onde passa. Vaidoso, cultiva um topetinho no seu cabelo castanho escuro, faz as unhas de vez em quando e freqüenta academia, onde mantém seu shape sempre sarado. Apesar dessas frescuras todas, Junior é um cara bacana, sossegado. Quando está dibob, curte um surf nos finais de semana nas praias de Santa.
Pretende cursar administração, para cuidar da empresa do pai, um influente empresário da cidade. O garoto não é lá muuuuuito estudioso, mas até que se dá bem nas provas. “É só prestar atenção na aula”, sempre responde a quem se espanta com a sua facilidade em tirar notas boas sem estudar.
Mesmo com um histórico familiar de dar inveja a qualquer mortal, Junior não usa seu status para esnobar ninguém. Ele está sempre entrosado com a galera. Com os boleiros, com os pagodeiros, com as festeiras, com as CDFs, com as patricinhas... Ah, ele adora todas as gurias, que babam e pagam maior pau pra ele. Junior, é, na verdade, um bon vivant. Safadinho, tá pegando a dupla de amigas inseparáveis Paty e Naty – as patricinhas da 304 do Liceu – e não fica nada constrangido por isso.
Terça-feira, ficou com a Paty na hora do recreio. Na quarta, pegou a Naty. As gurias até que não se importam da encrenca em que se meteram. “Ele é o cara”, derretem-se, respondendo a quem ousa questionar o porquê da situação. As gurias até fazem graça com toda essa história. Quinta-feira, logo no primeiro período, Paty e Naty bolam um plano para avacalhar com a colega Tatiene.
Taty, como passou a assinar seu apelido, em uma clara referência às patricinhas, tenta a todo custo imitá-las, mas não leva o menor jeito pra coisa. Tatiene é desengonçada, compra roupas parecidas com as roupas de marca, só que mais baratas, e fica ridícula com as maquiagens que as patis usam. Sabendo de tudo isso, e mais um detalhezinho – Tatiene é suuuuper caída pelo Junior e seu objetivo na vida é ficar com ele – as duas “tipas” esquematizam algo juntamente com o mauricinho para que Taty saia do pé deles.
Na hora do recreio o plano mirabolante já está pronto!
- E aí Taty, vamos almoçar no Shopping Centro hoje?, convida Junior, meio de canto, pertinho do Barzinho do Liceu, para ninguém ver ele pagando o mico de chamar a Tatiene pra sair.
- Humm, é sério que tu quer almoçar comigo?, pergunta a guria, mais parecendo uma manteiga derretida.
- Claro, Taty! Mas vamos só eu e tu.
Péééééééééééééééééééééééémmmmmm! No que soa a campainha para o término da aula, todo mundo desce correndo as escadas. Junior e Tatiene vêm mais atrás, espionados por Paty e Naty, cúmplices do que logo aconteceria.
- Taty, vai indo na frente... Eu preciso deixar umas coisas com o meu motorista que está ali na frente do portão me esperando, aproveito e digo que não vou almoçar em casa e já vou lá te encontrar.
- Ok, vou indo e te espero em frente ao restaurante McComilança.
Tatiene está sentada no lugar combinado. Passa meia hora. Quarenta e cinco minutos. Uma hora. Nada de Junior. “Onde ele se meteu? Será que aconteceu alguma coisa?”. A pobre Tatiene mal sabia que a pose de bom moço do rapaz estava se desfazendo aos poucos.
Junior aproveitou a esquivada que deu em Tatiene pra voltar pra casa com James, o motorista da família Lins. “Ai, que porre seria almoçar olhando para aquela gordinha ridícula, que tem cabelo ‘ruim’ e faz chapinha na franja”, pensou Junior, dando claro sinal de que entende de assuntos relacionados à beleza.
Já são quase duas da tarde e Junior liga para Naty para contar o que aconteceu de manhã.
- Hahahahaha, sério que tu fez isso com aquela poia, Junior?, pergunta a patricinha, rindo da desgraça alheia.
- Pode acreditar, Naty! Eu disse que estava com vocês quando aceitei o plano. Então, fiz o prometido. Deixei a Tatiene esperando lá no Shopping. Aii, que guriazinha mais chata. Por que ela não sai do nosso pé? Grrrrr...
- Pois é, Junior. Mas agora ela deve ter aprendido que não deve se meter com a gente. Hahahahahahahaha, ri Naty, uma risada maléfica. – Tá, tipo assim, agora vou ligar pra Paty pra contar tudo! Um beijo, xuxu!
- Tchau Naty, até amanhã na aula.

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