segunda-feira, 24 de setembro de 2007

EPISÓDIO 9: O emprego

Além de tudo o que estava passando, Gegé ainda pega uma suspensão.
- Que droga! Era tudo o que eu tava precisando mesmo. “Mais problemas”, se culpa o garoto. – Mas também, o que tá feito, tá feito.
Já em casa, Gegé reflete:
- Tenho que tirar proveito disso agora. Pensando bem, esta semana vai ser útil.
A realidade agora é outra. Nada de passar a tarde batendo uma bolinha, tocando um pagodinho e passeando com a galera. Por mais assustador que isso pareça, Gegé acorda e encara sua nova realidade. Afinal de contas, não tem outra opção. E tem consciência disso. Sua rotina está prestes a mudar, e ele sabe que isso é necessário para que ele tenha um bom futuro e possa oferecer o melhor para seu filho. Ele pega alguns currículos, coloca-os em uma pastinha e sai em busca de emprego. O seu primeiro.
Mesmo sob um sol de rachar, ele vai de agência em agência, de empresa em empresa, entregando currículos, preenchendo fichas e fazendo entrevistas. Depois de cada visita, ele confere nos classificados do jornal as vagas que lhe interessam, e que já havia definido na manhã daquela segunda-feira. Ao final do dia, contabiliza o saldo de sua empreitada. Mal podia acreditar, mas havia passado em seis lugares diferentes, superando suas expectativas. Conta para seus pais sobre a busca por trabalho mas, sobre a suspensão, acredita não ser o momento ideal. Quer ter uma notícia boa para compensar a ruim.
- E aí, Gegé, como foi? Alguma resposta positiva? - pergunta a mãe, assim que ele entra em casa.
- Olha mãe, nada de definitivo. O mais provável é que me chamem para trabalhar de assistente administrativo em uma metalúrgica, não me disseram qual. Acho que vai rolar – disse o garoto, confiante. - O salário não é o bicho, mas dá uma boa ajudinha. Pior é que ficaram de me ligar só na quinta. Quero ver agüentar a ansiedade.
- Fica calmo, filho, vai dar tudo certo – disse a mãe.
Gegé não tem muita qualificação, mas os cursos de inglês e de computação que nunca levou a sério, agora o estão ajudando. Os dias seguintes são de grande expectativa. Pra não queimar o filme em casa, sai normalmente como se fosse para a aula, mas aproveita para entregar mais currículos. Não pensa em outra coisa. Até os documentos ele já separa, para o caso de se confirmar a vaga na metalúrgica. Numa das manhãs, se encontra com os colegas suspensos com ele. Os guris estão super preocupados com a suspensão, e o papo do Gegé é só sobre as entrevistas, como são os lugares onde foi e tal. Cadu e Leco quase não acreditam na despreocupação do amigo com a suspensão:
- Gegé, por acaso tu já falou em casa sobre a suspensão? Não esquece que teus pais vão ter de ir na escola semana que vem, hein... – dispara Leco.
- Já tá tudo esquematizado. Também por isso que preciso conseguir um emprego, pra eles não ligarem tanto pra suspensão – confessa Gegé.
Na quinta-feira, a notícia tão esperada chega: a metalúrgica o chama para uma entrevista. Ele está selecionado para a vaga. Feliz da vida, o garoto prepara seus documentos e já se apronta para a estréia no mercado de trabalho. Ele não se sente muito preparado, mas está determinado a encarar.
Durante a entrevista, achou o chefe simpático e atencioso, o cara levou ele pra conhecer a empresa, explicou o que Gegé ia fazer, as funções e as responsabilidades que iria assumir dali pra frente e mostrou sua mesa de trabalho.
- Estou com sorte. A empresa é bonita, grande e o pessoal parece ser gente boa. Tomara que eu consiga crescer aqui – pensou.
Envolvido o dia todo com o trabalho que conseguiu, e com o celular desligado por norma da empresa, Gegé ainda não soube de outra fria que seus amigos Leco e Cadu se meteram. Geek, que havia feito a inscrição dos boleiros no Enem, recebeu por e-mail um comunicado afirmando que as inscrições dos dois foram anuladas por uma “falha de sistema”. O medo do hacker, agora, é que o governo descubra que ele invadiu o sistema para efetuar as inscrições.

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