quarta-feira, 12 de setembro de 2007

EPISÓDIO1: O circo


O colégio Liceu de Ensino Médio é provavelmente o colégio estadual mais popular da cidade. Nele tem galera de todas as classes e tribos. Não é que nem aqueles colégios particulares, em que todo mundo tem grana e fala dos mesmos assuntos, das férias nos Estados Unidos, e do último modelo de mp3, nem daqueles colégios da periferia em que ninguém tem grana e se fissuram em funk e pagodão.
É um colégio muito peculiar, mais parecido com um circo cheio de atrações. Tem os roqueiros e os pagodeiros, algumas patys e as gurias que trabalham, tem CDFs como sempre, nerds também, tem intercambistas, tem os puxa-sacos, os namoradinhos que ficam se agarrando no recreio e que não pensam outra coisa além de “amar um ao outro” (como o Gegé e a Camila).
Mas, no Liceu, tem um cara que não pertence a nenhum grupo. Fernando não é ninguém, não acredita em nada, não gosta de nada, não defende nada, não se estressa, não se irrita, não conversa e não opina. Fernando vegeta.
Hoje, especialmente, ele escolheu passar a manhã olhando pela janela.
“Que merda de dia! Que coisa mais tosca essa professora de matemática... Meu! Parece uma louca escrevendo essas fórmulas aí... Que que eu quero saber disso??? Pra que eu vou usar isso na minha vida?”
Fernando senta sozinho desde a oitava série.
Enquanto todos os alunos sentam em dupla, ele prefere a classe vazia por companhia.
Antes, costumava fazer parte do grupinho dos populares, estava sempre conversando com todos sempre agitando, bagunçando, e era super requisitado entre as gurias. Mas em algum momento começou a pensar no sentido de tudo aquilo e percebeu que era um idiota. Percebeu que tudo o que fazia era idiota. As risadinhas bestas das piadas sem graça - que ele mesmo contava - e a sifazeção constante - que era requisito básico para se dar bem entre amigos e garotas - começou a cansá-lo. Foi ficando mais quieto, mais na dele, tão na dele, que hoje não tem mais saco pra nenhum tipo de papinho dessa galera da turma. “São uns trouxas.”
O que ele acha mais engraçado é a piração da galera com o vestibular no fim do ano. “Não tô nem aí... Nem sei se vou estar vivo amanhã, pra que vou me preocupar com essa merda desse vestibular...?”
Na verdade ele acha muita coisa no colégio engraçada. Acha os boleiros, Cadu, Léco e Géverson as criaturas mais hilárias da face da terra. “Como alguém pode querer ser jogador de futebol? Passar a vida correndo atrás duma bola, não ter nem vergonha de ganhar toda essa grana que esses babacas ganham num país como o nosso?”. Pior é o Géverson, estupidamente chamando de Gegé, que além de boleiro era um babão. Só sabia ficar babando a namoradinha... “écs...”
Outro é o Joe que se acha o último Ramone. “Peloamordedeus, que retardado”. Fernando acha engraçado seus cabelos compridos, os jeans rasgados, os braceletes de couro. “No fundo, é um filhinho de papai”.
E assim Fernando passa as manhãs, rindo-se da estupidez alheia. Senta na sua classe sozinho, e a cada dia escolhe com o que ocupar a mente durantes as cinco tediosas horas em que é obrigado a estar no colégio. Obrigado, obrigado, não é, no fundo está aproveitando aquele tempo para observar as pessoas, para se divertir com a estupidez humana.
Ou então faz como hoje, fixa os olhos azuis pela janela, observa cada detalhe do que vê. A rua de paralelepípedos, os muros pichados na frente do colégio, a parada de ônibus, vazia durante a manhã... Não escuta nada da aula, não se interessa por nada, não tá a fim de nada.
“Ôôôôô galera!”... O grito do Líder “acorda” Fernando.
“Pessoal, se liguem!”, grita Frederico, o representante da turma, mais conhecido como Líder.
“Lá vem o Liderzinho”, pensa Fernando, embora o Líder fosse, da galera, o cara que Fernando menos menospreza. “Esse aí é o menos pior, o menos viajão”. Fernando acha o Líder engraçado também, é claro! Mas respeita o interesse do cara pela galera. Acha massa a forma como ele sempre quebra galhos pra todo mundo, como compra as brigas da turma com a direção do colégio. “É o que menos olha pro umbigo aqui...”
E pensando nisso, resolve dar uma chance... Vira os olhos da janela e olha para o Líder lá na frente, tentando chamar a atenção da turma.

3 comentários:

Anônimo disse...

Boa virada de perspectiva. É isso aí, dinamismo!!!
Gostei!
Paulo

Anônimo disse...

será...? hehehe qualquer coicidência é mera semelhança hahahah
Abraço Mateus!
;)

Unknown disse...

haeoiuehaeoiueae
ta mto boa a história xDD
:DD
:**