sexta-feira, 21 de setembro de 2007

EPISÓDIO 8: O desabafo


Aquela semana passou arrastada para Camila. Ela ia para a escola sem muita vontade de estudar, voltava para casa e passava os dias na cama. A cabeça fervilhava com a revolução que tinha tomado conta da sua vida desde o momento em que abriu aquele envelope.
A conversa com os pais de Gegé tinha sido bastante tranqüila. Eles entraram em um acordo, e decidiram contar tudo para a mãe da menina. Dona Sônia, mãe do garoto, respirou fundo e telefonou para Marisa. Após contar tudo, a mãe de Camila quis falar com ela.
Mesmo agora, tendo passado um tempinho, as palavras da mãe ainda feriam a alma de Camila. Os gritos ecoavam em seus ouvidos. “Tá bom aí com a tua família nova? Não precisa mais da tua mãe, né? Os outros sempre foram melhores pra ti... Agora viu o que te aconteceu? Tá aí, grávida, com dezessete anos. Já pensou no que vai ser o teu futuro? Nada... Nada vezes nada! Ao invés de fazer uma faculdade, tu vai limpar fralda!!!”. Camila nem conseguiu responder, sua mãe não lhe deu tempo, disse que não queria mais ver a filha e desligou o telefone.
Na sexta-feira de manhã, Juju, que já havia percebido que Camila andava estranha, chama a amiga em um cantinho da sala e pede:
- Cami, o que que tu tem? Posso te ajudar em alguma coisa?
Camila nem consegue responder e desaba num choro inconsolável abraçada à amiga. As duas se refugiam no banheiro para poder conversar. Juju traz um copo d'água e diz:
- Então, Cami, tá mais calma? Quer conversar? Pode confiar em mim, tu sabe...
- Acontece que eu tô grávida, Juju... - confessa Camila.
- Olha, Cami... Eu imaginei que devia ser sério, mas não pensei que fosse tanto!
- Pois é, Juju... Tô morando lá na casa do Gegé já faz quase um mês. A família dele tem sido bem bacana comigo, e com ele também.
- Bom, pelo menos ele tá firme contigo. Pior se ele fosse um desses babacas que depois que fazem as coisas simplesmente somem, né. E a tua mãe? - quer saber Juju.
- Ai, Juju... - diz Camila. – Minha mãe não quer nem saber de mim. Gritou comigo no telefone, disse que não quer me ver nem pintada de ouro, não sei o que fazer. Isso é o que tá doendo mais nessa história toda.
- Olha, essa primeira reação é normal. Já li isso em algum lugar. Daqui a pouco ela se acalma e vocês vão ficar bem. O importante é tu ficar tranqüila agora. Não passa esse estresse todo pro bebê, mãezinha... - fala Juju, abraçando carinhosamente a amiga.
Camila fica mais calma e as duas resolvem voltar para a sala de aula. Gegé olha para a namorada e percebe que ela está com uma aparência melhor, mais feliz até.
Enquanto isso, no corredor, o guardinha Gílldo troca uma lâmpada. No alto de uma escada, ele tenta apressar o serviço o máximo que pode, porque sabe que logo o sinal vai tocar. “Não vai dar tempo, não vai dar tempo... Rápido, rápido!”, pensa enquanto encaixa a fluorescente no suporte. De repente, acontece o que Gílldo mais temia. “Péééééééééééééééééééééééééééémmmmmmmm!!!”. Ele tenta descer rápido, mas a galera sai das salas como uma manada de búfalos. Uns loucos pelo lanche, e outros porque não agüentam mais a aula mesmo.
A gurizada acha graça no jeitão do guardinha, tentando se equilibrar na escada. Uma turma de meninos o cerca e começa a farra.
- Gílldo! Gílldo! Gílldo! - gritam às gargalhadas, enquanto sacodem a base da escada.
- Parem com isso seu bando de malucos! Vocês vão me derrubar! Eu vou... Aaaaaaaaaaahhhhhhhhhh!!!
Gílldo nem consegue terminar a frase e se esborracha no chão. A galera se assusta e começa a vazar devagarzinho. O guardinha ainda consegue agarrar Cadu, Leco e Gegé, e gritar pelo diretor.
- Mas o que aconteceu aqui, meu Deus do céu? - pergunta Sid, espantado.
- Eles balançaram a escada e eu caí. Acho que quebrei o braço. - responde Gílldo, acusando os meninos.
- Não foi a gente Sid, não foi a gente! A gente só tava passando pro recreio, nem encostamos na escada! - falam os três ao mesmo tempo.
- Bom, vocês três, já pra secretaria... E Gílldo, agüenta aí que eu vou chamar a Sambu!
Os meninos desceram as escadas irados com o guardinha. Sabiam que a punição era certa, apesar de injusta.
- Uma semana de suspensão! - decreta Sid. - E semana que vem apareçam aqui com seus pais.

Nenhum comentário: