terça-feira, 2 de outubro de 2007

EPISÓDIO 15: Esquemas paralelos

Quem diria que a banda ia vingar, hein. Quer dizer, que ia sair o primeiro ensaio, mal e porcamente, mas afinal, o importante é que Mary Jane tinha ido. Ou não. Joe não engoliu ela ter ficado de papo com o pai dele. Mas ele tem outras preocupações. A banda ainda não tem nome, porque tem que ser “O nome”. E a entrada da Mary na banda provocou uma reação em cadeia chamada Luana. Joe tem uma quedinha pela guria, nada sério, mais admiração por ela trabalhar, se virar e tal. E com Mary Jane na banda, meio que melou o lance dele com Lu. Afinal, até onde ele sabia, Luana não namora nem nada, mas quando tá de rolo com alguém, costuma demonstrar ciúmes e até certa possessividade. Isso que eles nem tinham ficado ainda, só paquera mesmo. Joe aproveita que Andréia ainda não veio e senta na cadeira vaga ao lado de Luana. De cara, ele confirma suas suspeitas:
- E aí, Lu, gostou do show do outro dia? - meio que puxando assunto.
- Legal, João Guilherme... - atende Luana sem muito interesse, chamando Joe pelo nome completo, bem pra irritar mesmo, porque ele odeia.
- Bah gata, não humilha... Tu sabe que tenho a maior consideração por ti, né? Pensei até que tu ia salvar a gente naquela pagação de mico, fiquei surpreso da Mary...
- Sim, a versão Jannis Joplin brasileira salvou vocês – interrompe a garota já com dor de cotovelo no ar.
- Tô vendo que não tá pra papo hoje, hein... Ia te convidar pra fazer backing vocal pra gente mas se for de má vontade nem te esquenta. Vejo se a Andréia tá afim de repente... - justifica Joe.
- Ei, foi mal. Não imaginei que fosse me convidar. – Sorri Luana, carinhosamente.
Demonstrando mais interesse, Lu pergunta quando são os ensaios e, fazendo charme, diz que depois das 19h tá liberada no mercado onde trabalha, que, se fosse o caso, se ele ainda quiser sua participação, ela topa. Ficam batendo papo e quando deu o sinal pro 2° período, Andréia entra na sala, com jeito de quem tinha chorado. Ao voltar pro seu lugar, Joe se despede com um beijo na mão de Luana, deixando um bilhete com ela e aquele olharzinho de cachorro perdido na mudança, que deixava ela toda comovida. Andréia senta ao lado de Luana, que pergunta, preocupada:
- Tá tudo bem, amiga? Por que veio só agora?
- Espera. Tenho que respirar senão vou chorar de novo. – fala a garota que por alguns instantes se cala até recomeçar. – Não dormi nada essa noite de tão chateada. Deu merda na loja onde trabalho. Uma cliente reclamou do meu atendimento, pentelhou tanto, me deixou tão nervosa, que acabei me atrapalhando e na hora de passar o cartão de crédito dela digitei um zero a mais. Aumentou em cem pila a conta, que quando viu fez um escândalo maior ainda. A gerente disse que eu ia pagar a diferença e no final do expediente me chamou pra conversar. Fui demitida. – desabafa a garota, com os olhos novamente cheios de lágrima.
- Nossa, amiga, nem sei o que te dizer. Que chato isso. Não tem como negociar?
- Só faltou eu me ajoelhar na frente dela. Não sei o que fazer. Nossa, faltava pouco pra me contratarem. Porque era estágio né... Fazia quase um ano já. – lamenta Andréia.
Nesse meio tempo, Andréia e Luana conversam, reclamando. A aula é de Biologia, uma das poucas que interessa Mary Jane. A garota se empolga e vai até a classe de Joe, que fica constrangido, porque Lu pode perceber e ficar de birra de novo.
A empolgação de Mary Jane tem nome: Raul. A guria quer fazer dupla com Joe no trabalho que a profe passou. Joe não curte muito, mas quando ela propõe que eles podem aproveitar e ensaiar também, quem sabe até escrever uma letra juntos, ele cede.
- Beleza. Mas não comenta muito que vai lá em casa. Senão queima meu esquema – declara Joe, fazendo sinal com as sobrancelhas em direção à Lu, já dispensando Mary, pedindo pra ela avisar Marcos do ensaio, que será no mesmo horário do anterior.
Joe começa a pensar na vida, viajar no meio da aula na qual não liga a mínima. Até que põe a mão no bolso, mania que o leva a comprar todos seus casacos com este acessório. Sente um papel dobrado e lembra que guardou uns fôlders que recebeu no caminho de casa, ao passar em frente a um cursinho pré-vestibular. Já que a aula não tinha nada de bom mesmo, ficou de olho no papel.
- MEU, NÃO CREIO! – toda sala olha para Joe pelo grito que silenciou a todos. E a professora Nadine o fulmina com o olhar:
- Tu não acredita no quê, João, que nos casos mais simples de protozoários, cada célula, por meio de sua divisão, pode ser utilizada na criação de novos indivíduos sem que permaneça o organismo parental?
- Bah, profe, disso aí não sei mesmo, não é pra mim essas coisas. O que é inacreditável é eu ter achado o curso ideal pra fazer faculdade. Tá aqui no papel: curso de rock’n’roll. É sério, olha só: é uma universidade lá das banda de Porto. Ééé... Ganhei o dia agora. Aeeee galera, todo mundo achava que eu ia ser mendigo, né... Hahahaha – zoa Joe com a galera, que vibra com a novidade e inicia uma discussão que interrompe a aula.
Líder, que não é bobo nem nada, pede pra profe intervir junto à direção pra conseguir uma palestra sobre os cursos de maior interesse do pessoal e um teste vocacional.

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