terça-feira, 16 de outubro de 2007

EPISÓDIO 25: O ba-fa-fá

Na escola o assunto era um só: o acidente de Gegé. Cadu e Leco não estavam no carro, porque moram para o outro lado do bairro. Acabam sabendo da história na escola, no dia seguinte. Enquanto Leco tenta explicar para os colegas quem levou Gegé pra casa, as conversas de canto geram fofocas em massa. Ouve-se que o motorista era de menor, outros dizem que ele tinha bebido e alguns vão ainda mais além, questionando o porquê de Gegé ter ido ao pagode sem a namorada grávida. Eles teriam terminado? Seria algum problema com o bebê?
Esse monte de especulações perturba Cadu, que neste momento culpa-se por ter indicado a carona para Gegé. Abalado, isola-se no pátio e acaba nem entrando pra sala de aula.
Lúcia também está com a cabeça longe. Sente-se a última das mortais por seu grande sonho ter ido por água a baixo, principalmente por um detalhe que nunca nem cogitou. “Como alguém que quer fazer medicina desmaia quando vê sangue?” cobra-se. A CDF, nessa altura, nem parece ser a 1ª da classe. Sai da sala pra beber água à espera de um insight que defina sua nova aspiração profissional.
Ao ver Cadu acomodado em um degrau, vai até ele. Quer saber mais sobre o acidente. Como Leco está sempre rodeado de gente, contando dez vezes a mesma coisa, sem nem lhe dar uma atençãozinha especial, senta ao lado de Cadu pra conversar:
- Ai que chato o que aconteceu. E aí, sabe como tá o Gegé? Todo mundo fala uma coisa diferente, não sei nem em quem ou no quê acreditar.
- ARRRGGGHHH – desabafa Cadu num grito que até assusta Lúcia.
- Tudo bem, se não quiser falar eu vou embora, deve ser um saco todo mundo vir te perguntar a mesma coisa. – reconhece a garota, já se levantando.
- Não, desculpa, é que sei lá... É verdade o que tu falou, mas me sinto só, não consigo falar disso com ninguém. Tu é inteligente, Lúcia, daqui a pouco tu me entende e pode ser que me ajude. Eu que falei pro Gegé ir com o Sérgio, um amigo meu que mora perto da casa dele. Aí me sinto culpado, não sei se vou lá visitar o Gegé, se peço desculpas, se ele vai querer falar comigo, ou se ele tá com raiva de mim. Não sei nem como ele tá, mas é certo que ferrei com a vida dele, pelo menos por um tempo, e me sinto muito mal por isso.
- Ai Cadu, tu tá confuso. Calma, organiza teus pensamentos. Se vocês são amigos, ele vai ficar chateado se tu não for procurá-lo. Porque na hora do pagode lá de vocês era tudo parceria e agora que deu no que deu vai cada um pra um canto? Pensa como tu te sentiria no lugar dele. – aconselha Lúcia.
- Nossa Lúcia, é bem isso. Como não me liguei antes? Tu é bem ligada nas coisas, hein.
- É, pode ser. Na verdade também não me liguei em uma coisa bem importante. Vai ver não me ligo em várias.
- Sim, tô sabendo já que tu não pode ver sangue. E que tu fica babando pelo Leco quando ele não te dá a menor atenção. É, Lucinha, tem que se ligar, às vezes a gente fica tão preocupado com uma coisa que não olha pra quem tá perto. Te liga, hein! – alerta Cadu, que se despede e vai pra sala.
- Humf – Lúcia gagueja e não sabe o que falar. Mas guarda o conselho de Cadu, melhor amigo do cara que ela tá afim.
Na sala, Cadu combina com um pessoal uma visita pro Gegé, mas outros assuntos passam a preocupar alguns colegas. Joe quer marcar nova apresentação da banda, ainda sem nome, mas que agora, mais uma vez, tem tudo pra dar certo com Maria Joana no vocal. Andréia passa as tardes atrás de emprego e está decidida a conseguir carteira assinada – estágio só se for para as vagas de final de ano que costumam aparecer. Luana cogita ir para o turno da noite para aproveitar o horário que não trabalha. Assim, pode fazer uns cursos de atendimento ao público e, quem sabe, ser efetivada para turno integral no supermercado.
Marcos, depois de ter acompanhado um engenheiro no projeto “Na Sombra”, falou com o pai, que é mecânico, e quer convencê-lo a investir no crescimento do empreendimento que pretende assumir no futuro. Pedrão descobriu que tem cinco cáries pra tratar, quando esteve “Na Sombra” de um dentista e, que tem medo de anestesia. José e André, os metalúrgicos da turma, souberam pela empresa que têm chances de serem enviados para a Itália, para cursos de aperfeiçoamento, pois no final do ano concluem o curso técnico. Mas terão de cursar italiano e não sabem em que dia e horário farão isso. Mathew quer voltar para os States, mas seu pai está se firmando profissionalmente no Brasil. Renata ainda está pensativa sobre o poema de autor desconhecido. Naty, Paty e Fabinho querem viajar juntos nas férias, mas não conseguem definir um país que se enquadre nos interesses de cada um.
E, para Gegé e Camila, não bastasse a gravidez não programada, o acidente veio desmoronar o pouco que conseguiram construir até então. Dizem que uma má notícia não vem sozinha, no caso do jovem casal não veio mesmo. A empresa onde Gegé está trabalhando disse que como ele estava no período de experiência e não completou três meses, não podeam contratar um funcionário sem condições de trabalhar. Inicialmente compreensiva com o tal pagode por conta do acidente, Camila acredita que Gegé foi irresponsável e o relacionamento fica abalado:
- Gegé, na primeira vez que discutimos, quando voltei pra casa da minha mãe, tu saiu pra te divertir. E olha no que deu: te acidentou, perdeu o emprego, tá todo quebrado sem nem poder ir pra aula. E o vestibular, hein? Nossa, Gegé, não esperava isso. E ainda por cima eu tô grávida. Como vou poder contar contigo? – desabafa a namorada.

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