terça-feira, 9 de outubro de 2007

EPISÓDIO 20: Sorte x Azar

No dia seguinte, exatamente como combinaram, a gurizada chama Líder pra explicar a idéia do projeto “Na Sombra”. Junior toma a frente:
- Líder, seguinte: ontem encontrei o pessoal tri perdido no cyber, procurando informações sobre profissões. Fala sério. Aí falei dum projeto que na empresa do meu pai foi bem aceito. O nome é “Na Sombra”.
- Continua, fala mais. – empolga-se Líder.
- A moral é alguém tipo a gente acompanhar o dia de um profissional. Toda sua rotina, desde que começa o trabalho até a hora que vai pra casa. A gente pode propor pra direção liberar e facilitar nosso acompanhamento. - explica Junior.
- Junior, tu podia ser advogado, hein. Teu poder de persuasão me convenceu. Além do que é uma boa idéia mesmo.
- Vou levar à alta cúpula – brinca Líder, referindo-se à direção.
- Imagina que legal acompanhar um bombeiro ou um médico, a qualquer momento pode acontecer algo. - empolga-se Leco.
Dias depois, a profe Adriana, de Sociologia, se diz contente pelo interesse de alguns alunos em saber mais sobre as profissões e da idéia de acompanhar a rotina de um profissional durante um dia inteiro, principalmente com a proximidade do vestibular.
- Como eu sei que vai acabar dando discussão, porque um vai querer acompanhar fulano e o outro também, vamos sortear quem acompanha cada profissão. É um acompanhamento individual, até porque, caso contrário, vira matação de aula, piadinha e acabam acompanhando pouco. - explica a profe.
A ansiedade toma conta da turma. Lúcia é a primeira a afirmar que vai acompanhar um médico e ponto. Não abre mão mesmo.
Com o sorteio...
- Ai, eu sou uma azarada! Com tanta profissão importante pra ser pesquisada fui pegar logo psicólogo. - reclama Lúcia.
- Qual o problema? É uma profissão importante como as outras, minha madrinha é psicóloga e atende muita gente, inclusive médico, que reclama que trabalha demais. – satiriza Líder.
- Tá, eu resolvo isso. Fica na tua. - chateia-se Lúcia.
Após o sorteio, a profe pede que Líder se responsabilize por pesquisar o período de inscrições e data das provas de vestibular das principais faculdades do Estado. Uma muvuca se estabelece na sala de aula. A turma toda é só comentários. No meio da baderna, Lúcia vai como quem não quer nada na classe da Juju, que comentou que gostava de Psicologia e, sabendo principalmente que ela foi sorteada pra acompanhar um médico, tratou de negociar a troca dos papéis com a garota.
- Juju, faço teus trabalhos até o final do ano. Pelo amor de Deus, troca esse papel comigo! É tudo o que eu te peço... - implora a CDF.
- Sem problemas, Lúcia. E nem precisa fazer nenhum trabalho pra mim, não. Que bom que tu lembrou que penso fazer Psicologia. Legal da tua parte. - comemora ingenuamente a menina, quando Xandão corta o papo, ameaçando Lúcia:
- É sim, pode fazer os meus trabalhos, então, pra eu não contar essa tua pressão pra trocar com a Juju. Aí me sobra tempo pra treinar futebol de salão – planeja a garota.
- Faço com o maior prazer. E psiu! Hein... Morreu aqui.
Os cochichos são interrompidos por Pedrão que, do jeitão dele, fala alto normalmente, nem precisa gritar.
- Dentista! Legal, tenho consulta esta semana, aí já fico por lá vendo o pessoal de boca aberta e bato-papo com ele. Nunca consigo conversar com ele. Com a anestesia não sei nem onde tá minha língua, hahaha – descontrai.
- Ai que mau-gosto! - berra Naty - Ainda bem que a profissão que peguei é suuuuper cultural. Artes Plásticas não tem nada de nojento. – analisa a garota, ao que Pedrão retruca:
- Tu que acha! Pra fazer esculturas já vi usarem barro, terra e até carne pendurada na rua.
- Ai, “Pedrão O desagradável”! Só quero saber da parte glamurosa. – destaca Naty, logo sendo interrompida pela professora que avisa a todos que serão avaliados pela apresentação que deve apontar pontos positivos e negativos da profissão.
Pra não dizer que todos ficaram empolgados, Fernando, lá do seu canto, nem prestou atenção qual profissional deveria acompanhar. Outro incomodado era Geek, que pensava qual poderia ser o ponto positivo ao acompanhar um publicitário: “Que gente chata, vivem empurrando coisa pra gente comprar. E ainda querem convencer a gente que fica bem numa roupa que fica horrível, ou que vamos utilizar muito uma coisa inútil”. Mas alguns empolgam-se:
- E aí, Marcos, vai acompanhar quem mesmo? É algo que tu gosta, ou quer fazer? – questiona empolgado Joe.
- É, mais ou menos. Vou acompanhar um engenheiro. Deve dar grana, mas na verdade por mim passava o dia na mecânica do meu pai. Acho que vou trabalhar com ele mesmo, largar de tocar por aí afora nos findis e ficar tranqüilo. Aí, eu podia fazer um curso tipo administração, afinal ele é um microempresário. - explica Marcos.
- Bah, cara, tu não devia largar de tocar. Mas tu quem sabe. Pior que é bom levar a sério tua idéia mesmo. Alguém vai ter que segurar as pontas lá na tua família quando ele não der conta e tem que saber administrar também. E não adianta tu pegar o bonde andando, de mão beijada e ir à falência em pouco tempo. – reflete Joe.
- E tu, tá empolgado? Vai acompanhar quem?
- Acredite se quiser. Um técnico agrícola. Meu, onde deve ter esse curso? – indaga Joe. No mínimo a criatura tem que se mudar pro meio do mato pra estudar. Heheehehe.
- Pois é, já é uma coisa pra tu pôr nas tuas observações. Já imaginou se mudar pra bem longe, sem conhecer ninguém? - preocupa-se Marcos.
- Nem fala. Largar tudo e começar do zero deve ser duro.
Mal Joe comenta e Luana completa:
- Eu acho bom. Gostaria de ir pra bem longe, conhecer gente nova.
Com o comentário, Joe se aborrece e sai da sala. Marcos pondera:
- Bah, cês tão de rolo e tu diz uma dessas. Quer saber, vai pro fim da fila e desempata a vida dele.
- Não vou abrir mão da minha vida por um cara que tem medo de sair de casa. Amanhã me inscrevo num vestiba em Santa Maria. Quer que eu desista agora? – reclama Luana.
- É, esse papo de vestibular muda muita coisa mesmo. Pelo visto, resolve algumas também. – conclui Marcos, encerrando o papo.

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