segunda-feira, 29 de outubro de 2007

EPISÓDIO 34: Abstinência

Que agonia... Renata sentia uma ansiedade terrível. Já tinha tomado uns dez copos de água, já tinha tomado banho, já tinha fumados uns cinco cigarros, mas às vezes era beeem complicado. Pegou o celular e ligou pro Fernando.
- Nando, tu tem um tempinho pra mim?
- Ai Rê, tô escrevendo, tô no meio do raciocínio.
Agora Fernando não parava mais de escrever contos, crônicas, poesias... A mente dele parecia ter aberto as comportas da inspiração. Depois de tanto tempo sem se expressar, ele agora tinha maratonas de criatividade e escrevia, escrevia, escrevia... Também já tinha decidido fazer vestiba pra Jornalismo.
- Mas Nando, é super importante... Tá rolando de novo...
- Sério? Tá, já tô passando aí.
Fazia praticamente três meses que Renata estava de cara. Naquela noite no Hawaii, Fernando a tinha encontrado sentada na calçada olhando as estrelas e ela sentiu que tinha encontrado um amigo. Ele a levou pra casa e ela contou tudo de si. A confissão durou duas horas e entre lágrimas e soluços, ela desabafou. Tinha medo do que ele ia pensar, ou de como iria reagir, mas ele não falou nada... a noite inteira. Só a abraçava e lhe dava carinho. E foi isso que encantou a menina. Depois ele contou que tinha escrito o bilhete, que estava curtindo muito ela...
Fernando tinha medo, é claro. Não imaginava que ela estivesse envolvida com drogas, mas entendia o sentimento de vazio e solidão que a tinha motivado recorrer a isso. E estava disposto a ficar do lado da amiga pro que fosse... Eles não estavam namorando nem nada, mas o relacionamento de cumplicidade tornava-se cada vez mais profundo. Agora, todas as vezes que Renata tinha crises de abstinência (que não eram tão fortes porque ela nunca chegou a ser uma usuária diária) ela ligava pro Fernando.
Ninguém sabia de nada e, por enquanto, eles preferiam tentar resolver do jeito deles. Ela ligava, Fernando vinha, eles davam uma volta, ele ficava com ela até passar. A mãe de Renata não gostava de Fernando e vivia proibindo e xingando a filha se imaginava que ela estava com o menino. Renata tinha muita raiva. "Ela não sabe de nada, de nada da minha vida!". E não lhe dava ouvidos, saía com Fernando e a deixava gritando sozinha.
Ele chega uma meia hora depois e ela abre a porta subitamente. Com a testa franzida, suando, pede:
- Me tira daqui, vamos dar uma volta, por favor!
Ela aperta sua mão forte e ele segura a dela mais forte ainda. Quer lhe dar força, quer que ela não se sinta sozinha. Mas os dois sabem que essa barra não é fácil e que ainda tem maus momentos pela frente. Renata nunca mais usou. Não quer mais, mas o corpo pede e é super difícil...
Deram uma volta, foram para o parque e caminharam o tempo todo, caminharam para Renata cansar, e agüentar a ansiedade... Depois, começou a passar e ela se sentiu exausta. Deitaram na grama e ficaram ali, horas. Ele acariciava seus cabelos e pensava no que estavam fazendo, pedindo a Deus, ou seja lá quem fosse, que lhe estivesse escutando os pensamentos, força pra agüentar até o fim ao lado da amiga. E que tudo isso passe logo.

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