quarta-feira, 17 de outubro de 2007

EPISÓDIO 26: O bilhete

Gegé não sabe nem o que falar. Está no hospital, todo arrebentado e, pior do que a dor que sente pelo corpo todo, tem medo de Camila descobrir "tudo" o que rolou no pagodão e o remorso que lhe corrói o coração.
Olha Cami, não sei nem o que te dizer... Acho que não quero conversar agora, tô me sentindo muito mal.
- Não quer falar? Não quer falar? E eu devo o que, esperar até tu te sentir "mais-à-vontade"???
Camila está frustradíssima. Indignadíssima. Na verdade, nem sabe bem como está. Olha pro namorado todo arrebentado, olho roxo, duas pernas quebradas, e a pena suprime a raiva.
- Tá Gegé, descansa e depois a gente conversa, quando tu tiver te sentindo melhor.
- Obrigado... Murmura Gegé, num fio de voz.
Os boleiros estão preocupadíssimos com o amigo. Cadu não se conforma:
- Putz meu... Que baita merda esse acidente. Coitado do Gegé.
- Tu já viu ele?, pergunta Leco.
- Já, meu. O rosto tá terrível, desfigurado, e o pior são as pernas quebradas.
- Sim, e agora, quanto tempo ele vai ficar sem poder andar?
- No mínimo dois meses de cadeira de rodas.
- O futibas acabou pra ele, né?
- Pior...
É quase um funeral pros guris. Eles sabem o quanto Gegé ama futebol e o que significa não poder jogar por tanto tempo, quem sabe até, nunca mais voltar a jogar igual. Combinam uma visita para dar uma força ao amigo.

Renata está inquieta. Naquela manhã, ao chegar na escola, vê na sua classe um bilhete. Intrigada, ela pega o bilhete, pede para ir ao banheiro e lê. Diz assim: "Sem querer a gente existe, e sem querer outros existem e encontram a gente que existe... e na verdade o fato de outros existirem e dentre esses outros especialmente você faz o meu existir ter um significado totalmente novo. Sou tão feliz hoje, sinto isso de bom que há muito não encontrava... talvez nunca tenha encontrado... sou tão feliz hoje, por querer, e ter vontade de algo, ter vontade de entender cada vez mais tudo que envolve a existência de você."Ela nunca recebeu nada parecido. Não sabe nem o que pensar. "Que texto forte, que profundo! O autor deve ser alguém assim, super especial... Aliás, o estilo parece muito com o texto que a professora leu na sala na semana passada. Será a mesma pessoa?"Quando volta pra sala, Renata senta novamente na classe vazia ao lado de Fernando.- Oi! Tudo bem? Eu posso ficar aqui nessa aula?- E eu tenho escolha?, responde Fernando, supostamente de má-vontade.Renata se acomoda. Presta atenção na aula... Repara que Fernando tem os olhos fitos no professor, mas a cabeça no outro mundo. A aula é de História. História é interessante, mas nada naquela manhã é mais interessante que o bilhete que ela recebeu. Renata luta contra a vergonha e a vontade de compartilhar o segredo. "Ah, o Fernando não fala nunca com ninguém mesmo. Falar com ele é jogar um segredo ao túmulo..."- Fernando...- Quê...- Olha só isso...Fernando gela ao receber da menina o bilhete que ele mesmo tinha escrito. Havia chegado mais cedo naquele dia. Tinha sido o primeiro a entrar na sala e discretamente tinha deixado o bilhete na classe dela. Depois, com a algazarra dos colegas, ficou cuidando para ninguém derrubar o papel no chão e percebeu quando Renata pediu licença para ir ao banheiro ler seu poema. E, agora, ela vinha compartilhar com ele. Teria gostado?- O que é isso?- Lê, né...Ele finge ler o textinho que já sabe de cor.- E aí???, Renata olha ansiosa para ele.- E aí o quê? - O que tu achou?- Ahh... Tu quer minha opinião sobre o teu poeminha de amor... Hahahahaha, desdenha Fernando.- Mas tu é um trouxa mesmo, né?"Não, linda... Sou só o cara que não consegue mais te tirar da cabeça, que rabisca frases para ti o tempo todo, que te olha e vê a pessoa mais interessante do mundo."- Ai, Rê, se liga... Eu não acho nada dessa melação aí...- Mas, Fernando, o texto é muito massa. Não é melado. Te juro, nunca tinha recebido algo assim."Nunca??? Não, nunca. tu nunca recebeu algo assim, porque tu nunca me conheceu..."- Hummm... Sim, e eu com isso?- Quero que tu me ajude a descobrir quem é... Eu acho que é a mesma pessoa que escreveu o texto que a profe leu semana passada, lembra?- Não...- Ah Fernando, que droga... Em que mundo tu vive?"No seu..."A garota levanta indignada e troca de lugar, quando a professora intervém:- Mocinha! Pode ficar onde está, nada dessa trocação de lugar na minha aula! Na hora do intervalo tu vai onde quiser... Já foi ao banheiro, agora se acomode aí, por favor, e não me distraia mais..."Isso, fica aqui do meu lado..."Renata olha meio raivosa para o colega e obriga-se a sentar, mas fica meio de lado, meio de costas pra Fernando. Ele aproveita para olhar o cabelo dela, para sentir o perfume dela, para curtir tudo de bom que está sentindo por ela.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aeee!!! façam suas apostas para as últimas emoções do vestipirandos!

Vamos lá, muita coisa ainda está pra acontecer!