quarta-feira, 10 de outubro de 2007

EPISÓDIO 21: Dias de sombra

Para os alunos dos terceiros anos do Liceu, a semana foi especial. Eles puderam vivenciar a rotina de empresários e profissionais de diversos ramos, seguindo-os como sombras em suas atividades cotidianas.
Líder ficou na cola de um advogado. Já tinha meio que se decidido pelo Comércio Exterior, mas não titubeou em acompanhar uma outra profissão. Pelo contrário. “Quem sabe eu não me descubro em outro ramo, né?”, pensou logo quando sorteou o papelzinho.
Entrou em contato com o Ministério Público e escolheu acompanhar um advogado de pequenas causas, o Dr. Nunes. Foi em uma audiência no Fórum, que ia discutir sobre o pagamento de uma pensão. Líder nunca tinha entrado em um ambiente assim. Já tinha visto em filmes, claro, mas nunca imaginou que um dia pisaria em um Fórum.
- ...se o pai atrasar a pensão em três meses pode parar na cadeia. Nesses casos, o juiz da Vara de Família determina a detenção. - disse Dr. Nunes na audiência.
Líder estava extasiado. Boquiaberto. Maravilhado. Gostou muito do “juridiquês” e dos termos difíceis. Vibrou a cada “vossa excelência”, “nobre colega” e cada “meritíssimo” ditos. Gostou da forma como o Dr. Nunes defendeu sua cliente. Gostou da retórica e do poder de persuasão. “Advogar, na verdade, é saber empregar bem a retórica”, comentou Dr. Nunes após a sessão, quando Líder foi cumprimentá-lo pelo feito.
- Obrigado. Vejo um futuro advogado na minha frente... – respondeu Dr. Nunes, rindo da ingenuidade do seu “sombra”, que ficou realmente extasiado com toda a audiência.
A família de Líder tem no histórico alguns profissionais da carreira jurídica e agora o garoto é o mais novo candidato a entrar para o rol. Está decidido a cursar Direito.
No projeto “Na Sombra”, Fabinho teve a sorte de pegar uma profissão entre as três que estava em dúvida: Moda e Estilo. Como ele já tem alguns contatos nesse meio, resolveu viver durante um dia inteirinho na sombra do famoso estilista Vitório Hickétti. Acompanhou o feitio de alguns looks e viu as bordadeiras e as rendeiras finalizando seus trabalhos. Além disso, teve a oportunidade de assistir o desfile de lançamento da coleção primavera/verão do estilista VH, que é o ápice da carreira de qualquer criador de moda.
Fabinho sempre gostou muito desse negócio de tendências, cores, tecidos, modelagens, sobreposições... Enfim, o mundinho fashion, os holofotes, os aplausos e o estrelato sempre atraíram a atenção do entendido da galera. Se antes ele estava em dúvida entre Moda, RP ou Jornalismo, o projeto “Na Sombra” confirmou que Fabinho leva mesmo jeito pra ser um produtor de moda “Mas glamuroso, né, meu bem?”.
Mesmo com o episódio ocorrido lá no ginásio, quando teve a palestra vocacional e Lúcia vomitou após ver os slides da cirurgia cardíaca que o médico apresentou, a guria fez questão de acompanhar um profissional da área médica (fez tanta questão que quase brigou com a colega Juju pelo bilhetinho sorteado). Então, contatou um clínico-geral e explicou tim-tim-por-tim-tim o que seria o projeto “Na Sombra”.
Lúcia vivenciou durante dois dias o que é a correria na vida de um médico. Acompanhou até um plantão e um atendimento de urgência no pronto-socorro do Hospital Benfeitor. Lúcia já tinha noção que ver sangue não era nada agradável, mas mesmo assim insistiu. Com o soar da sirene da ambulância que aos poucos se aproximava, Lúcia pensou: “Não vem algo muito bom por aí...”.
Estava o Dr. Gabriel na sua sala no Hospital, quando entraram no pronto-socorro três pára-médicos empurrando uma maca com um rapaz desmaiado, mais ou menos 25 anos, que tinha recém sofrido um acidente de moto. “Fraturas de tíbia e bacia”, falou um dos pára-médicos para o Dr. Gabriel, o clínico-geral. A maca foi sendo conduzida até o Setor de Emergência. Lúcia, ao ver a cena do rapaz todo ensangüentado, não agüentou e desmaiou. A menina tem apenas 17 anos e não está preparada para esse tipo de cena. Pelo menos, não agora.
Pior que isso gerou um certo tumulto no corredor do Hospital Benfeitor. O Dr. Gabriel quis acudir a garota, mas não poderia deixar de atender o paciente fraturado. Então, chamou uma das enfermeiras para reanimá-la, enquanto ele se dirigia à Traumatologia. Quando Lúcia voltou à realidade, a cirurgia já havia terminado e o Dr. Gabriel já tinha ido embora.
Lúcia, a guria mais CDF da turma 304, sempre esteve decidida a fazer Medicina. Dedicou mó tempão estudando pra passar num vestibular concorridíssimo, matou as aulas de Educação Física porque achava uma perda de tempo fazer atividades de condicionamento muscular, por exemplo, e agora percebe que talvez essa não seja a carreira que queira seguir. E o mais angustiante é que, agora, quase em cima do vestibular, se deu conta que não tem outra opção de curso.
Naty, uma das patricinhas inseparáveis, que ironicamente tiveram que se separar (já que o projeto “Na Sombra” é individual), acompanhou uma artista plástica. Ela sempre quis ser uma estilista famosa, mas preferiu ser mente aberta e acompanhar uma profissão totalmente diferente daquela que sempre quis seguir. Naty acompanhou a execução de uma obra de óleo sobre tela que foi encomendada à artista Vânia Schitz, para uma exposição do Centro de Cultura.
Naty gostou muito da maneira como Vânia explicou as coisas. Como segurar o pincel, como tirar o excesso da tinta antes de pintar a tela, e por aí afora. Aliás, Naty gostou tanto que ficou em dúvida entre seguir a faculdade que sempre quis, ou se abrir para o novo e tentar uma carreira totalmente inusitada – pelo menos, pra ela.
Na sala de aula, resolveu trocar uma idéia com o Fernando, já que ele é todo caladão, todo na dele.
- E aí, Fernando, tudo tri? – puxa papo a patricinha.
- Dae Naty, beleza? Que que manda? – Fernando dá atenção, surpreendentemente.
- Bah honey, tô em dúvida! Eu sempre quis ser uma estilista famosa e tal, mas com esse lance do “Na Sombra” eu fiquei triiiiiiiiii na dúvida. Curti muito a profissão que eu acompanhei.
- E qual foi?
- Ah, eu fiquei na cola de uma artista plástica. Nossa, curti muito, muito mesmo. Eu acho que levo jeito pra esse negócio de artes.
- Mas Naty, pára e pensa. Tu pode ser as duas coisas se tu quiser. Tu pode criar uma coleção baseada em releitura de telas famosas, por exemplo.
Fernando dá seguimento ao papo, o que é mais surpreendente. Mas, além disso, ainda dá dicas e – pasme! – valiosíssimas para a colega patricinha. Aliás, Naty jamais esperou que Fernando fosse assim... Como dizer... Bom de papo! “Vai ver ele fica aí viajando nas aulas, mas ele é um baita dum cara bacana”.
- Naty, sabe que que tu faz?
- O que, Fernando?
- Vai ser arteira, guria! Hahahahaha...

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