sexta-feira, 5 de outubro de 2007

EPISÓDIO 18: A vida é feita de escolhas

O médico, Dr. Dagoberto Medeiros, começa a falar e Lúcia aguça os ouvidos, afinal, ela tá certa de que vai fazer vestibular pra Medicina. Fabinho está de cochicho com as patricinhas e não deixa a CDF se concentrar.
- Pssssss, Fabinho! Gurias! Por favor, deixa eu prestar atenção!!! - pede Lúcia.
- Ai, desculpa honey...
- Tá bem, mas ó, é importante pra vocês também! - encerra a CDF.
O problema é que o doutor, além de falar sobre a profissão, começa a exibir slides de uma cirurgia cardíaca. Lúcia não estava preparada para ver aquilo e começa a se sentir mal. “Meu Deus, é isso que eu vou ter que fazer? Só de pensar em pôr a mão nessa nojeira, acho melhor pensar em outra carreira”, pensa.
- Tu tá pálida, negrinha! - diz Fabinho, vendo o mal-estar da amiga.
- Não tô me sentindo muito bem... - responde Lúcia, segurando o estômago. - Acho que vou ter que ir ao banheiro.
- Eu que não vou ajudar, já bastou ver aquele monte de sangue aí, vômito não!! - grita Naty, com cara de nojo.
Lúcia vai ao banheiro e, enjoada que está, vomita até não poder mais. Depois de lavar o rosto, começa a chorar. “E agora? Meu sonho acabou! Não posso ser médica! Não posso ver sangue!”, reflete, desesperada. Ela volta para o ginásio com os olhos inchados de tanto chorar. Camila vê a tristeza da colega e se aproxima.
- O que que foi, Lúcia? - pergunta.
- Não vou poder ser médica, Cami... Só de ver aquele monte de sangue passei tri mal! - desabafa.
- Mas olha, de repente tu pode seguir outra especialidade, que seja recompensadora, entende? Imagina se tu fosse obstetra, por exemplo, iria pôr vidas no mundo... E quer coisa mais linda que o nascimento de um bebezinho? - consola Camila.
- É, vou pensar então. - diz Lúcia, mais calma.
Na vez da nutricionista falar, travou-se um debate entre ela e Ana. A menina desatou a falar sobre dietas, receitas diet e light, perda e manutenção de peso...
- Cara, olha só, parece que em vez de ter chamado a doutora, deviam ter posto a Ana lá pra falar. A mina é um palito e ainda faz dieta. Daqui uns dias vai ter que andar com uma pedra amarrada no pescoço pra não voar. - debocha Joe.
- Pior né, meu... - responde Maria Joana. - Esse papo todo tá me dando alta larica, vamos comer alguma coisa no bar? Daí a gente já combina o próximo ensaio da banda.
- Beleza, vâmo lá... Até porque não vou seguir nenhuma dessas profissões metidas à besta, o meu negócio é o rock, é a música, yeahhhhh! - Joe dá um grito que chama a atenção da galera.
O engenheiro encerra a palestra e Sidinelson abre espaço para as perguntas. Os que já estão resolvidos vazam para o pátio da escola. No ginásio, só ficam mesmo os que ainda não decidiram o que fazer. Fabinho é o primeiro a perguntar.
- Gentemmmm! Essa palestra só me confundiu ainda mais! Eu não sei como decidir, tem algum jeito de ficar mais fácil?
- Bom, o primeiro passo é tu ver o que gosta de fazer, e o que tu te vê fazendo no futuro. É difícil na idade de vocês, eu sei, mas de repente um teste vocacional possa ajudar. Depois, tem que ser alguma coisa que tu leve jeito também, porque não adianta só gostar e querer, tem que te identificar. - diz a psicóloga.
- É verdade que pra estudar Medicina tem que pôr a mão nos mortos? - pergunta Lúcia.
- Sim, querida, a gente usa os corpos para estudar a anatomia e os órgãos do corpo humano. - responde o médico.
- Mas e quem tem nojo?
- É normal que no começo seja mais complicado, mas com o tempo e a prática, os estudantes acabam acostumando. - tranqüiliza.
O debate termina e a galera volta para as salas. A aula de Sociologia começa e a professora quer saber o que a turma achou da palestra sobre profissões. Ela propõe que cada um escreva um pequeno texto sobre o que vai fazer no vestibular e por quê.
- Quem ainda não decidiu pode escrever sobre as profissões que gostaria de seguir, e o motivo dessa indecisão. - avisa a professora.
- E quem não quer fazer vestibular nenhum? - resmunga Fernando, lá do fundo da sala.
- Aí, Fernando, sinceramente, eu não sei como ajudar... Mas acho que é importante que tu também escreva, afinal, alguma coisa deve despertar teu interesse. Não é possível que tu não goste de nada!
A turma toda começa a escrever. Líder percebe que Michele aproveita uma distração da professora pra vazar da sala. “Tsc, tsc, essa daí não tem jeito mesmo”, pensa. Ele é o primeiro a terminar o texto, e aproveita a folga para prestar atenção nos colegas. A maioria está concentrada no caderno, mas tem alguns que estão bem longe dali. Maria Joana é uma. Ao invés de escrever sobre a profissão, desenha corações com seu nome e o do pai de Joe, Raul. Fernando apenas olha para a folha em branco. Renata dorme. Alguns alunos conversam. O sinal toca e a professora recolhe os textos.

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